segunda-feira, 28 de julho de 2014

Travessia em solitário da Serra Fina.


                                                    Sobre Montanhas....                                                                                                                                                      
Minha cabeça fazia tuim, tuim, tuim! Que nem o filme do Riticoque, aquele que o cara tinha um troço com a mãe, aquele da faca, da cortina de box de banheiro, que tinha aquela mina pelada atrás da cortina, ta ligado! Eu tava assim,... porque eu escuto e vejo muita merda sendo feita e dita sobre montanhismo.
  A prática do montanhismo é muito arriscada e extenuante, porque usamos cordas e nos envolvemos com precipícios e grandes quedas, climas loucos, riscos constantes, logística e muito peso, já nas caminhadas o desfrute vem de outra fonte e era isso que eu queria nesta caminhada. Sei que algumas pessoas se intitulam montanhistas, mas que na real são trekinistas e que carinhosamente os chamamos de montanhistas horizontais. Existem clubes que usam o nome montanhismo, mas que na realidade é um clube de treking. O fato de andar em montanhas e que também de alguma forma as roupas e alguns equipamentos serem parecidos, confundem as pessoas e favorecem os interesseiros e os que têm medo de altura e os “segunda feira cinzenta”, aqueles endividados que resolveram usar o montanhismo para pagar suas contas e acham que podem folgar. Ledo engano!   
O montanhismo é um  esporte de risco  muito perigoso e para pessoas valentes e descompromissadas. " Mas caminhar é tudo de bom”. Na realidade para eu, caminhar é a única forma de oração que eu entendo. Amo caminhar. O treking é o pai de todos os esportes; mas não é Montanhismo.... o símbolo do montanhismo é formado de piolets e cordas 
Eu mesmo criei um clube no Paraná que se transformou em um clube de treking. Na real todos os clubes de montanhismo do Brasil são de treking.  São clubes recreativos e educativos e que tem a nobre função de divulgar, promover, agregar, preservar a conduta, a ética, a moral, a técnica  e a historia do montanhismo e torna-as acessíveis e claras. 
O estado do Rio de Janeiro tem mais de uma dúzia de clubes que desenvolvem o montanhismo e parece que eles tem muitos socios e cuidam bem de seus associados. 
Imagine um clube que vive de sonho, cadáveres e faz de conta e sempre falando de velhas vias. Um clube de panças e pelancas, de pessoas que não tem nem o corpo, nem currículo ou nem nada, sobre montanhismo e quererem cagar regras sobre montanhismo. Sem falar nas figuras que se escondem por um tempo, conchavada de companheiros pouca pratica, aparecem com uma matéria duvidosa para a TV, com vídeoszinhos editados que quem entende nota e sempre deixam duvidas e que rotulados por etiquetas de patrocinadores endividados que no final do mês... “O Caveira”, Nêga! ...”O Caveira” estará na sua porta lembrando o de suas contribuições mensais. Que vidinha mais ou menos. E isso vai acontecer ate o final da suas existências, nessa bolinha surrada.”... Inquilibrando-se”
 Bom...alguns clubes conseguem ser mistos. Da onde eu venho muitas pessoas que se intitulam montanhistas, mas são na real trekinistas, mas eles juram que amam as montanhas. Têm também os patotistas que também amam as montanhas, todos os finais de semana, quando não chove, lógico. 
Pessoal....a vida é boa. Ela é um universo de possibilidade e ganhamos um planeta fantástico para interagir. A vida é muito curta...uma titica. Devemos tratar essa oportunidade com nosso maior trunfo. Um imenso presente...

Pessoal escrever é difícil, escrever correto é mais difícil ainda. Parte da tarefa de fazer essa leitura consiste em corrigi-la. Se você for entrar nessa travessia, leve consigo um saco de correção ortográfica para não se perder no caminho. Divirta-se. Boa leitura. Obrigado.

 SERRA FINA EM QUASE SOLITÁRIO.
A visão da Serra Fina me cativou desde os anos 70 quando eu a vi pela primeira vez, quando visitava o Parque Nacional do Itatiaia. Era uma caminhada que eu “devia” para mim. Fazia uma eternidade que eu desejava fazer a travessia da Serra Fina em solitário. Eu já tinha tentado em uma ocasião mas o mau tempo não deixou. Desta vez, era novembro de 2013  e apesar de não ser mais a época apropriada para fazer essa travessia, devido ao mau tempo; lá estava eu novamente. Digo novamente porque toda vez que me dirigia  para a Serra Fina  saía com chuva na cabeça.
A ideia de fazer a caminhada da Serra Fina em solitário cativa a maioria das pessoas que já fizeram esse trajeto alguma vez, ou mesmo quem gosta de longas caminhadas e que conhecem a historia dessa trilha. Se você ler na Net a respeito dessa caminhada, você acreditará que ela é o terror das trilhas e que você não esta preparado em fazê-la. O que na realidade não é isso.
 A Travessia da Serra Fina é uma puta caminhada; são 40 e tantos kilometros para fazer a seu bel prazer, subindo e descendo serra.  Geralmente as pessoas fazem essa travessia no inverno, quando tempo esta firme. Também escolhem fazer a caminhada em 4 dias, nos feriados prolongados pois é quando essa oportunidade pinta o e pelo problema da água, que durante a travessia só há  água em dois lugares (pra quem não conhece a região)  
Problemas  ou preferência de logísticas também determinam em quanto tempo fazer e o estilo á escolher, mochilas muito pesadas e o problema da água, coloca o pessoal em cheque; como não tem onde colher água no segundo dia de caminhada, as pessoas recolhem água logo após toca do lobo, para os dois primeiros dias e quando chegam no Rio Claro, recolhem água para a noite e a manha no cume da serra fina e para o terceiro e quarto dia recolhem água no final da travessia do Vale do Ruah
 É muito difícil achar água durante esse trajeto e então surge então um problema de verdade: quanta água? levar........ fazer em quatro dias para poder desfrutar o lugar e ter tempo para 
 Então não é a toa que as pessoas quando vão fazer esta caminhada, se organizam como para uma expedição e geralmente são grupos grandes e que na maioria das vezes, a travessia e feita nos feriados prolongados, pois geralmente, a travessia é feite em 4 dias e no inverno, onde os dias são espetaculares e na maioria das vezes não chove. Nesses períodos um numero bastante grande de pessoas fazem a travessia; o que da certa sensação, mesmo que hipotética, de segurança, pois você não se encontra só. 
As pessoas têm medo de ficar só. Que dirá sozinho no meio da natureza, distante de tudo e de todos. Ficar sozinho com seus medos e pensamentos, ter a si próprio como compania, na mais completa solidão, onde você não tem o recurso da distração (tv,PC, boteco, o uso do cartão). Nesse momento  o escuro da noite, a distancia que separa você  de você  mesmo, da família, dos amores e das coisas que te dão segurança e identidade; sentam na sua frente; elas serão tua compania pelos próximos dias...e se a casa cair! Você ta sozinho ...He he! Menos... menos....não é assim tão cruel como eu pinto a sena. Eu já estive 2 vezes sozinho na Pedra da Mina e sobrevivi. O que pode acontecer de errado com você?... Ser abduzido por E.Ts para experiências sexuais, interplanetárias e ser comido por uma onça, (o que da no mesmo) ou então ser atacado por monstros que habitam o seu sótão, ou quem sabe quebrar uma perna, passar vários messes perdidão na selva, entrar em pânico e pular num buraco, ter um treco e transcender e não querer sair mais dali . Na real o que pode acontecer de errado é muito pouco... se você for tranqüilo e atento, nada de errado irá acontecer.
Se você respeitar algumas regras, a travessia não será um problema. Tem que saber jogar com o peso, já que será mais confortável e "seguro" se você caminhar leve. Escolher um bom calçado e uma mochila adequada, no mais, pouco tudo; só o suficiente. Quanto a água eu levaria três litros dia
Eu já tinha feito em solitário pelo Capim Amarelo até a Pedra Da Mina e voltado pelo próprio Capim Amarelo mesmo sem conhecer o caminho por não conhecer outro caminho. Depois fui com amigos fazer o caminho do Paiolinho até a Pedra da Mina e voltei pelo Paiolinho. Nunca tinha feito a travessia completa e a idéia dre fazer em solitário não saia de minha cabeça até que não tinha mais como adiar e então todas as senas da vida rolaram e eu estava na Toca do Lobo pronto para fazer a Travessia da Serra Fina, em quase solitário; minha companheira de escalada nesses últimos anos, Karininha R&R iria comigo bivacar no Capim Amarelo e desceria na manha seguinte. Não tinha mais como adiar...
Bato com força minhas bengalas no chão, como faço sempre, para avisar o local e o planeta que estou ali e começamos a subida do Capim Amarelo. 
Saímos da Toca do Lobo depois das duas e sem pressa, pegamos água alguns minutos mais acima e subimos tranquilamente até  o Capim Amarelo, ainda tínhamos um pouco de sol para organizar nosso pernoite. Quando vc chega no cume do CA, você  vê a distancia percorrida e a que você terá que percorrer; isso deixa muitas pessoas de cara! Dormimos logo e levantamos cedo. 
Eu caminho desde os 10 anos de idade e passei a vida pesquisando sobre alimentação e sempre cuidei do que eu como, principalmente por que, comer não é para mim uma fonte de prazer, não viajo muito nisso, como para ter energia. Eu tinha algumas duvidas sobre alimentação e horários de reposição e recebi uma proposta alimentar de um nutricionista que me deixou curioso. O cara prepara e sugere a alimentação para muitos atletas e dos mais variados esportes e eu fiquei curioso com a proposta do cara e resolvi testar nessa travessia como experiência.
Preparo um espetacular Arábica e sorvo minha nova alimentação; era estranho pois tenho inapetência matinal e geralmente não como nada pela manha e aquela refeição me fazia muito bem e me dava uma energia fora do normal que apostei em não levar nada do que eu normalmente levava, para os 4 dias que escolhi para fazer a travessia de forma  tranqüila. Coisas como: Nozes, passas, pão integral, mel, ovos  sardinha, atum macarrão etc. Tinha ficado em casa e dado lugar a:  pós e farelos ultra leves. Por momentos fico duvidando que vou fazer a Travessia sem minha tradicional alimentação, cheia quitutes e laricas. 
Karina arrumas as coisas e desce para a Toca do lobo e eu fico alguns minutos no cume do Capim Amarelo. Espero que o silêncio invada o cume com seus barulhos e que o vento tome conta de tudo, revirando meus pensamentos, afastando-os de mim. 
Meu objetivo naquele dia era chegar no Rio Claro e assistir o entardecer nesse lugar e assim foi. Chego no pequeno planalto onde se localiza o Rio Claro ainda cedo, retiro a mochila e dou uma volta na região; queria muito ficar umas horas sozinho nesse lugar, queria entardecer e amanhecer ali. No final do dia pego minha mochila e cruzo o Rio Claro que la em cima não tem mais de um metro de largura; encho meus cantis com diamante liquido e caminho até o bosque onde coloco minha barraca, exatamente como imaginei quando vi este lugar a primeira vez que vi este lugar e imaginei essa sena. Antes de escurecer a neblina passeia pelo bosque, entra na minha barraca, toca minhas coisas e eu a respiro e quando entra no meu cérebro não existe mais nada, somente aquele momento e o silencio que invade o ar e que navegava entre meus pensamentos... Fico ali imaginando me ver passar pela primeira vez, como para comungar esse momento intimo entre o homem e a natureza, entre os homens e as montanhas.
Pela manha acordo com pressa, quero chegar à Pedra da Mina, o dia esta radiante e as chuvas não estão na região. Subo rápido e chego no cume onde o Sol era o imperador e eu ali, amigo do rei. Tiro a mochila das costas e passo a mover-me lentamente, quero ficar ali boa parte da manha. Quando você esta sozinho nesses lugares, seu cérebro age diferente; as referencias, os estímulos tem uma fonte diferenciada de quando você esta na rodoviária de São Paulo, ou num cume cheio de pessoas que trouxeram a mesma conversa lá do vale, onde fica as cidades. Você pode achar engraçado, mas tem coisas que você só tem acesso se você estiver na mais completa solidão; então essas coisas aparecem para você e é muito bom. Uma das coisas que te mostra outra realidade é um “fenômeno” que  acontece com seu ouvido; como você esta sozinho, seu ouvido amplia o seu poder e você passa realmente a escutar . Então você escuta coisas que normalmente você não escuta e garanto para você que não é ruim; aposto meus 50 anos de montanhismo nisso. Uma hora dessas se de essa oportunidade.
Li no caderno de anotações que algumas crianças tinham feito a travessia; fico muito feliz com aquilo. Uma delas escreve algo como: “É muito difícil, mas é muito lindo”.
 Faço um café no cume da Pedra da Mina e fico ali, desfruto daquilo tudo. Pra todos os lados que você olhe as distancias são enormes e te dão uma sensação plenitude, de que tudo esta correto. Que tudo segue uma ordem natural e que é essa configuração que ira nos ensinar algo. Lógico, você terá que estar disposto a aprender. 
 A cota 3 mil é alta para um pais tropical descendo pro  o sul a um vazio dessa altura que só vai repetir na Argentina, para o Norte, passamos por ES no Pico da Bandeira e depois somente no Amazonas.
Fico viajando no cume da Pedra da Mina por um longo e languido tempo. Eu olho o Vale do Ruah e fico imaginando as historias que já escutei. O Vale do Ruah é o berço do Rio Verde e eu teria que atravessá-lo, mas antes disso eu teria que enfrentar um mar de capim elefante da altura do bicho, pântanos com areia movediça e folhas de capim que cortam como navalha ale da grande possibilidade de você passar por muito tempo perdido naquele labirinto. 
Tudo isso era muito desafiador e ao meio dia, pego minha mochila e desço até o inicio da travessia do vale do Ruah. Agora viria uma parte que até então eu não conhecia. Não sabia onde seria meu acampamento naquele dia, mas sabia que tudo aconteceria numa região que até agora eu não conhecia e melhor coisa a fazer era acelerar o expediente.
Cruzo o rio afundando minhas bengalas no banhado e tomando “olé” das moitas de capim até chegar ao outro lado do rio. Na real cruzei o rio bastante rápido e agora, em terra firme e plana, acho o inicio da trilha e daí pra frente “só alegria”! Apesar de não conhecer o lugar, eu acho a trilha com facilidade e deslizo em meio o capinzal gigante. Em pouco tempo me encontro no final do Ruah. Recolho água para aquela noite e escolho para acampar num lugar no final do vale, onde podia ver o vale e a serra fina de um ângulo que ate então não conhecia. Monto meu acampamento na subida do Cupim do Boi e fico por ali vendo o sol terminar sua jornada. Estava num lugar totalmente novo e desconhecido e aquilo me fazia muito bem. A noite começava há apagar o dia, lentamente e os elementos que compõem a escuridão começam a me cercar: os sons, os cheiros, as criaturas da noite, uma rufada de vento quente que ainda teima por ali, e em pouco tempo a escuridão reina absoluta e o céu se ilumina de carbono assoprado. Por instantes reina um silencio ensurdecedor, até  que o primeiro grilo começa sua cantoria e ai sim a velha fanfarra da noite apresenta seu espetáculo. Entro na minha pequena barraca e afundo dentro do meu saco de dormir.
Há tanta gente presa na Matrix, enfrente a televisão, ou outro eletrodoméstico, ou outra distração, ou o que é pior sem entender que essa configuração fajuta criada pela Matrix pode ser mudada, A vida é uma experiência fantástica. Existir neste período em que se encontra a humanidade é uma oportunidade única, é uma época para se de andar com os olhos e todos os sentidos vivos por que tudo esta acontecendo, estamos vivendo uma das fazes mais marcante de nossa trajetória nesse planeta. É um privilégio existencial estar consciente de tudo que acontece. Os próximos 50 anos definirão nossa estadia aqui na terrinha.
Todas as vezes que escolhi para fazer a travessia, o clima não estava bom; desta vez não era diferente, a previsão climática anunciava chuvas, raios, terremotos e assombrações e em todas as direções. A previsão não errou, pelo menos em parte.
Na primeira vez que tentei em solitário, eu fui ate o cume da pedra da Mina e voltei. Não vi nada, a neblina me acompanhou ate eu voltar ao Capim Amarelo. O tempo todo eu não sabia onde tava, eu não conhecia nada. Eu era um perdidão no meio da neblina. 
Agora a chuva não tinha cruzado meu caminho, apesar de eu avistar as chuvas rondando ao meu redor e escutava os trovões e sentia a terra tremer. Quando chego perto do cume dos Três Estados, sinto o ar carregado, uma cor “cinza esverdeada” cobre o ar e isso é descarga elétrica.  Quando eu chego no cume, uma enorme explosão arrebenta o ar! Sem pensar eu me abaixo e eu fico por segundos sem ação. Aquele estrondo ecoando ao meu redor, a sensação de que a montanha esta se desfazendo dura alguns instantes... sigo vivo. (O bom é que quando um raio cai em você é que você não vê e nem sente). Mesmo assim paro na escultura de ferro que existe no cume dos Três Estados, tiro a mochila para fazer uma foto e saio dali o mais rápido possível. 
Realmente a alimentação que eu estava usando tinha poder. Apenas tinha tomado um copo com algumas combinações de pós e farelos e o troço virou um combustível poderoso. Voei até o cume dos Ivos. Parei um pouco no cume e faço umas fotos. Agora a tempestade acontecia longe dali, puxo um pouco o freio de mão. Era meu terceiro dia de caminhada e tinha escolhido aquele dia para caminhar tudo o que eu pudesse, e ainda pretendia caminhar mais um pouco.
 Tudo estava calmo e eu estava a mil por hora, miro o próximo morro e saio em busca dele ( não lembro o nome dele). Escurece mas mesmo assim consigo caminhar sem lanterna; a noite não esta tão escura e distingo o trajeto da trilha com certa facilidade. As 9 hora no meio da escuridão eu encontro um lugar limpo e plano no meio do capinzal, onde cabe mais ou menos 2 ou 3 barracas. Entendo que ali é o lugar de parar, ainda caminharia mais algumas horas, mas já tinha caminhado o suficiente para um dia de alegrias , estava satisfeito. Sou simples e rápido e logo estou dentro da minha diminuta barraca, alimentado e flutuando.
Ainda esta escuro quando levanto; preparo meu café e assisto o dia acordar. Como era o ultimo dia e não quero que termine; não há  nada de serio para se fazer,  poderia ficar mais  uns dia por ali. Tomo meu café e fico esperando que ele faça efeito, que a cafeína chegue ao meu cérebro terminando de me acordar. 
As primeiras luzes que acertam meu acampamento e cobrem tudo de ouro, o verde, o vermelho, o azul, minhas mãos, a xícara de café e o vapor que sai de minha boca e que dança na frente de meus olhos, tudo é coberto pelo mais puro ouro. Fico ali em transe, olhando aquele espetáculo, até que toca o despertador interno; era hora de caminhar e sacudir aquela poeira dourada e sair dali antes que o mundo volte a ser colorido novamente.
Chego na fazenda ainda cedo. Percebo que cheguei em algum lugar, só não sei onde estou e onde fica a saída. Fico imaginando onde seria o final. Aquelas curvas finais devem ser um calvário á parte para algumas pessoas.
O barulho da rodovia aumenta e me aproximo-me de um sitio onde noto que algumas pessoal que estão na frente da casa, param o que estão fazendo e ficam me olhando com curiosidade e com certo espanto; acho que era a primeira vez que eles viam uma pessoa apoiado em duas bengalas, passando por ali com uma mochila nas costas, vindo de um lugar que só poderia ser a Serra Fina. 
Pergunto a eles se eu estava perto do portão de saída da fazenda, mas antes de responderem, me enche de perguntas:  Se estou sozinho, se eu machuquei a perna durante a travessia e trouxera as bengalas já pensando nisso,  se eu vi a onça, se eu tive medo, etc. Depois de responder todas as suas perguntas, eles anunciam que eu cheguei: ...Mais alguns metros...Depois da curva.
A Serra Fina, o Itatiaia e todos esses lugares abençoados, são verdadeiros santuários, que pertencem a estrutura do planeta e pertencendo ao planeta esses lugares pertencem aos habitantes desse mesmo planeta.  Esses lugares, em outras palavras, pertencem a população, as pessoas, ao contribuinte; esses lugares contribuem e fazem parte  do enriquecimento da raça humana, fazem parte da nossa evolução e da nossa compreensão sobre tudo que nos rodeia. Esses lugares devem ser protegidos dos peçonhentos, dos Reptilianos, dos pés no saco, dos endividados e todos os tipos de “Mala Hóstias” que circundam esses lugares, com suas idéias malevolentes provindas de suas frustrações pessoais e de desejos nascidos do medo da vida e da morte. ..”e também de outros troços que agora não vem ao caso”.
A Serra Fina não é exatamente o lugar para promover reuniões, corridas e outros tipos de aglomerações, pelo simples fato de ela ser um santuário As pessoas terão mais a “ganhar” se a atitude que as leva a conhecer e comungar  com um lugar com esse, seja motivado por outras razoes que não venham desse tipo de influencia.
Isso é visivelmente falta de “sacação”, de “mãnha”, tá ligado!  Promover e participar disso são até mesmo falta de respeito e demonstração de que não tá entendendo nada.  Lamento que as pessoas só tenham os feriados prolongados para fazerem esta caminhada. A Matrix é uma merda! Criamos ela e deixamos ela nos colocar nessas situações onde o que de pior pode acontecer para um homem que é perder sua liberdade e pior ainda é quando essa prisão se apresenta disfarçada de “responsabilidade” ou “compromisso sério”. 
Reconheço que fazer a travessia em quatro dias é confortável e podemos desfrutar do que estamos fazendo. Gostaria muito que as pessoas que gostam de andar nas montanhas e sobre tudo as que sabem o que a Serra Fina reserva para quem deseje conhecê-la, que reservassem dias escolhidos a dedo para desfrutarem dessa oportunidade e que conseguissem esses quatros dias em outro momento que não os feriados prolongados. Mesmo que para isso, você não vá ao seu casamento, na sua cirurgia marcada ou o no seu exame final de formatura ou até mesmo que você perca o emprego.
A Matrix é formada de muitas coisas; é o resultado de nossa inocência prostituída, Imaginem uma pessoa da roça no primeiro mês com a antena parabólica em casa; assistindo todo esse lixo. É também formada do nosso descaso pelas coisas fundamentais e pelo conformismo obvio da distração e obvio que também, de nossa visão previamente limitada. Tudo é configuração, se você não ta conseguindo esses quatro dias, então você terá que mudar a configuração ao seu redor.
Perceber que você administrou sua vida e escolheu para você aqueles momentos... andar por ali, chutar uma pedra, olhar nuvens, o horizonte, escutar o vento, recolocar a mochila nas costas e voltar a caminhar,... são 40 e picos  km para andar, da tempo pras pernas resolverem todas as mazelas da vida. Bom...á quem diga que eu estou viajando...tá bom, eu sei...Mas dá uma olhada ao seu redor. Hehe...
Durante o trajeto encontro todo o tipo de lixo. Vários pequenos “atalhos” estão se formando ao longo da travessia e que em algum momento irão causar muitas duvidas e provocar enganos e irão se agravarem nos dias de neblina. Esses atalhos são feitos ou forçados quando se encontram muitas pessoas na trilha. Parecia que um bando havia passado por ali.
Algumas pessoas escolhem a Serra Fina para treinar para o Aconcágua....ou vendem essa travessia como treinamento para esse propósito. Sinceramente!... é mais fácil você torcer o pé e acabar com o seu sonho de Aconcágua. A propósito, o Aconcagua é uma questão de saúde e aclimatação. Cuidado com os “Especialistas”: estão de olho na sua grana.
...Passo pelo portão e caminho pela estradinha em direção ao barulho dos carros que passam na rodovia. Karina me espera com seu sorriso pontual e sua camaradagem montanhística ... Coca cola, cerveja gelada, Taff Mae, sanduíches e todo tipo de guloseimas, melecas e enjoys desejáveis nessa hora. De se empanturrar-se!!!

quinta-feira, 21 de abril de 2011


Permitindo-se a Aprender.

Numa determinada ocasião, recebi um telefonema de uma pessoa que queria informações sobre o “Curso de Proteções Móveis” que eu ministro, pois ele e um amigo tinham interesse em fazê-lo. Na conversa por telefone, expliquei como eram as aulas e passado algum tempo, eles apareceram para fazer o curso e assim conheci uma história mais que original.

Os dois amigos de longa data resolveram começar a praticar escaladas “indoor” e começaram a treinar na academia 90 Graus, onde Paulo Gil que é proprietário, orientador da academia e um “Mestre do movimento na vertical”, conhecendo a vontade deles em fazer escalada “outdoor”, recomendou meus cursos.

Num dado momento, perceberam que precisam adquirir mais conhecimentos técnicos para a prática da escalada outdoor. Com esse pensamento, compraram um “livro” sobre o assunto e o equipamento básico necessário. Estudaram “minuciosamente” o livro em casa e no grande dia de colocar o conhecimento em pratica, foram para uma pedreira, a Pedreira do Dib, que é um local de escaladas, perto de Sp, para praticar o que aprenderam com o livro.

Isso me dá arrepios, pois lembra minhas primeiras experiências em 72 ̸ 73, onde eu barbarizava as pedreiras na região de Santa Felicidade, Mercês, Vista Alegre (Bairros de Curitiba), com um toco de corda de 30 mts de sisal, um “oito soldado” e alguns pitons feitos por um ferreiro. De muitas pedreiras fui expulso, outras chamaram os bombeiros, a polícia e em uma ocasião, o vigia de uma pedreira, já de saco cheio com o Homem Aranha aqui, disparou dois tiros de espingarda como aviso caso eu voltasse.

Logo que os dois amigos chegaram à pedreira, assistiram um escalador cair de uma via e quebrar o pé. Refeitos da cena e entendendo aquilo como um, “bem vindos ao clube das fraturas”, continuaram com seus propósitos e treinaram nas vias.

Daí pra frente aconteceu o que eu chamo de “originalidade da relação”. Após a ida a pedreira, entre escaladas esportivas, caminhadas e montanhismo, eles chegaram até mim com uma lista de saídas para as montanhas e escaladas que impressionaram pela disposição e curiosidade que demonstravam.

Tinham escalado em vários lugares e ainda queriam subir muitas outras. A última escalada que fizeram em montanhas, foi uma tentativa na Agulha do Diabo, mas desceram perto do cume, um pouco antes da “Chaminé da Unha”, por se sentirem inseguros e por falta de conhecimentos. Por isso, os dois amigos resolveram que deveriam aprender mais e me procuraram.

A Chaminé da Unha é um setor aéreo que impressiona muito. Em 1977 quando guiei essa escalada na compania de Hiran Brandalize, nesse mesmo ponto, também fiquei impressionado! A cena de um vale chamado “Caldeirão do Inferno”, na tentativa de chegar ao cume da “Agulha do Diabo”, um obelisco de granito de 500 a 600 metros de altura (não tenho certeza da altura), que sobe no meio de um vale rodeado de selva em que só se chega com muita caminhada, peso nas costas, num jogo que envolve três dias para quem não conhece a região. O cume, que mal cabe duas pessoas, com os grampos de ancoragem salpicados por raios, você sente o quanto está exposto. Acredite!

(Essa viagem que fizemos para o Rio de Janeiro, em 77, foi com o plano inicial de passar uma semana escalando e no e final ficamos um mês, em pleno mês de fevereiro, sob um calor infernal. Uma viagem pioneira atrás de escaladas e montanhas. História que conto depois pra vocês.)

Quando adolescente li um trecho de um texto de Saint Exupéry, mais conhecido na ilha de floripa pelos pescadores, como “Zé Perri”, quando descia lá com seu aviãozinho na praia batizada por ele de “Champ et Pêche” (campo de pesca) e hoje conhecida como “Campeche”, que dizia algo assim:

“amamos as montanhas desde longe, suas encostas seus vales e aresta e a maneira que temos para exteriorizar esse amor, é escalando-as”.

Nas montanhas que me formaram como montanhista, Marumbi, Hanhangava, Pico Paraná, conheci muitos “apaixonados” e era em sua grande maioria uma paixão intelectualizada, se posso dizer assim, pois existem os pseudos intelectuais também, mas era uma maneira bucólica de ver a montanha, ficando só no primeiro estágio da relação, que é ver a montanha de longe, percebê-la e amá-la. Poucos foram para as paredes desfrutar desse universo e não era o que eu queria para mim. Queria ser um montanhista, não só amá-las! Para isso, sabia que teria que arriscar meu pescoço.

No Marumbi, geralmente as pessoas que freqüentam têm um “apelido de montanha” A expressão mais extremada desse “amor contido”, foi um cara apelidado “Elefante”, um Marumbinista que contava as mais loucas histórias sobre escaladas imaginárias e que eu, no meu universo de aprendiz e já percebedor dessa relação imaginária, achava o máximo aquelas historias.

Não foi à toa, que minha primeira conquista, com apenas 15 anos já me achando um montanhista, foi uma fissura de poucos metros que escalei, 4° ou 5° grau, mais uma brincadeira arriscada do que uma escalada que mereça méritos, vamos dizer assim, ganhou o nome de “Fissura do Elefante” em homenagem a esse personagem.

É difícil sair desse primeiro estagio, você realmente terá que estar disposto a entender o que esta acontecendo se quiser interagir com montanhas, Algumas pessoas me procuram com certa tristeza. Quase sempre contam a mesma história: Têm um saco cheio de equipamento em casa, mas não tem motivação para usá-lo. Falam das responsabilidades, da falta de companheiros, das dores, da falta de tempo, da família e etc. Mas também contam que seu coração e seu cérebro ficam constantemente lembrando, que esses lugares cheios de aventuras e vida existem, e que gostariam de percorrê-los, mas nem sempre é assim que acontece. O desanimo e a falta de motivação fomos nós que selecionamos esses “sintomas” e demos nomes a eles. Quando entramos nesse universo, tudo então passa a ter uma relação muito séria, onde cada coisa tem seu peso.

Sair de casa e deixar todas as coisas que nos dão referência de quem somos, para fazer algo de conotação anti-social ou solitária, é extremamente complicado para nosso cérebro, acostumado com mesmices. Algumas pessoas precisam de estímulos variados para sair de casa. Geralmente é sair com a “turma” ou para encontrar a “turma” e na maioria das vezes, pra misturar comida com bebidas, sacudir bem e encher o pandulho. É lógico que eu estou exagerando, algumas vezes “as turma”, vão ao teatro antes. Como diz Chico Buarque: “As turma” são sempre, um carro alegre, cheio de gente contente.

Escalar montanhas antes de qualquer coisa é uma relação, é um acordo pessoal a ser estabelecido. Arrumar companheiros para esse tipo de aventuras é sempre mais difícil, porque necessita muita disposição e humor para subir montanhas carregando peso nas costas, procurando coisas de sucessos duvidosos, de riscos inevitáveis e de confortos resumidos.

Esse tipo de atividade, as escaladas de comprometimento, é diferente de sair com a turma para uma balada, às vezes, sempre no mesmo lugar e com as mesmas caras. Quando você desperta para este tipo de aventura, outra parte de você é quem tem esse interesse e que sai atrás, que vai buscá-las.

Hoje existem vários grupos de pessoas envolvidas com as atividades mais “pesadas” ao ar livre, as conhecidas comunidades de caminhadores, escaladores, montanhistas e etc. Se você assume uma postura diferente da “turma”, é lógico que sempre tem algo a perder, pois é bastante desconfortável deixar esse convívio de comodidades que gera essa convivência em grupos, porque atividades como montanhismo sempre são feitas entre poucas pessoas e sempre envolve muito trabalho, risco e exposição, mesmo numa atividade de fim de semana.

As pessoas que andam em grupos não querem ser montanhistas, querem andar em grupos e tudo o que isso gera. Existem grupos, com chefes e presidentes híbridos, Pessoas que vêem a publico constantemente, quando algo acontece e gera notícias, para dar uma “opinião”. Isso acontece a toda hora, basta observar ao redor.

Montanhismo não se comanda, não se molda, é uma das maiores expressões de liberdade do homem neste planeta. Ninguém convence uma pessoa a subir uma montanha, é mais que nunca uma expressão de liberdade. As montanhas do mundo estão abertas, para todos poderem conhecê-las e tocá-las.

Na realidade, as pessoas não escalam porque existem montanhas e escaladas, e sim porque isso possibilita um convívio com outras pessoas. Não são as montanhas e as escaladas o foco principal da brincadeira.

Mas quando essas coisas passam a ter um significado maior e começamos a explorar além de nossas possibilidades, precisaremos de uma disciplina que não precise de monitoração. Disciplina que venha do conhecimento protetor, que só acontece se você souber aprender, se você perceber que só com o coração de aprendiz terá acesso a esse conhecimento. É com seriedade e disciplina monástica que aprendemos, porque usaremos esse conhecimento para se arriscar. Nesse momento, começa um jogo muito sério, onde a aposta tem que ter backup e o apostador coração de guerreiro. Quanto à sorte, se tiver certeza que aquele serác ou aquela laca, não vai cair na sua cabeça, continue, caso contrário, faça como um montanhista desça e volte outra hora!

O conhecimento é o grande segredo pra quem quer se arriscar, pra quem quer ir além, conhecer a fundo suas possibilidades e vivenciar esse mundo das montanhas. Só que não basta pôr na reta. A única forma de ir além é estudar e se permitir aprender.

Os cursos de evolutivos de montanhismo e de técnicas de escaladas, associados a outros conhecimentos, são o estágio que possibilitam uma pessoa a ir mais longe e desmistificar uma série de equívocos, plantados habilmente, com relação às escaladas “difíceis, perigosas e impossíveis”, ou “montanhas assassinas” e coisas do gênero, que na realidade não existem. Somente o uso de conhecimentos e uma puta disposição para fazê-lo, e evidentemente, uma habilidade natural ou adquirida para lidar com o “risco à exposição”, que são elementos que compõe e mantém o montanhismo, em sua essência.

No momento que você percebe que o que chama à atenção são esses tipos de vias e que elas estão nas montanhas, e que as montanhas começaram brilhar e ficarem mais interessante que aquele carrão ultimo tipo, ou aquela modelo que “te deu bola”, então e não te resta alternativa a não ser educar-se. Daí pra frente, tudo fica muito sério, pois entrarão em jogo vários fatores e situações que você não terá com se esquivar. Problemas como: tempo, dinheiro, família, trabalho e mais uma serie de obstáculos malucos, antes de você soltar a corda e começar a escalar, que acaba sendo mais fácil criar uma situação tipo: “sabor igual ao natural”, como vemos em alguns alimentos de pacotinho. Talvez o maior problema, que eu percebo, é a dificuldade natural que temos em lidar com nós mesmos, com o nosso cérebro. Esses obstáculos serão maiores que os desafios que temos em mente com relação à escaladas e montanhas,

Se você realmente quiser conhecer esse universo de perto, conviverá intimamente, além dos problemas acima citados, como sempre digo, terá que lidar com os “elementos que regem o montanhismo”, que são “o risco e a exposição”. Não o risco de uma queda de mau jeito ou de se estar exposto às intempéries, mas a relação direta com a morte, com perdas, com abnegação e é muito difícil sair do conforto das “cabanas do vale” para escalar a si próprio, enquanto você interage com o que esta na sua frente, você não esta fantasiado, tudo o que acontece naquele momento, inclusive você, é montanhismo. Além do que, a relação com montanhas ser algo muito sui-genires e por outro lado simplesmente mágico, e essa relação mexerá com seus valores pessoais, modificando-os, mais além do que você possa imaginar, O maior estímulo de um montanhista é algo simples de conceber. Ele sabe de sua paixão, sabe que esses lugares existem, sabe o que quer e sabe também que pode no mínimo, tentar.

Quando aparecem na minha frente, pessoas que há um tempo vem experimentando esse tipo de “vias de exposição”, e que durante a semana tem uma porrada de responsabilidades a cumprir e que mesmo assim, arrumam tempo nos finais de semana para fazer esse tipo de escaladas, então só me resta ensinar tudo o que eles devem e precisam saber, e como e porque arrisca-se. Coisas que você tem que saber, para ver a onde está o perigo real.

Os dois amigos desta história têm por hábito estudar, treinar as técnicas, praticá-las e utilizá-las. São aprendizes constantes e têm a liberdade e curiosidade necessária para isso. Como guia de montanha, os ajudei a colocarem em ordem, no seu vocabulário, as palavras, “risco, exposição e impossível”.

Agora as coisas se tornaram reais e palpáveis e com certeza desfrutarão com mais confiança e conhecimento, de inúmeras vias e faces de montanhas, porque o perigo não esta nas avalanches, quedas e tempestades, está em não saber.

A História do montanhismo está cheia de atitudes pessoais e é graças a essas pessoas, que saíram do rebanho, que podemos ver a relação mais pura, entre homens e montanhas.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

NOVAS VIAS NA FACE NORTE DO BAÚ






”AMANITA MATUTINA A3 7b E3”

Antes de entrar para “mandar“ a, Amanita Matutina, eu terminei algumas vias que já tinha começado e abri 2 novas vias que saem da base Do Bau, na fase norte, que são:_ “Entre a Resina e o Sonho 6 E3”, que eu abri com o Gleyson, um aluno muito forte que quer ser um “Hard man” e a “O Beudo e o Inquilibrista 6+ E3”, que é o inicio da “Amanita Matutina” que abri em solitário e a partir do “Plato do MSP”, a via “Suck Dog”( ainda não sei o grau e que também abri em solitario), também é uma opção para se chegar no “Platô do Ciuminário”, ambas abertas somente com proteções móveis; somente a “Entre a Resina...” tem uma proteção fixa. Essas vias foram abertas em poucas horas. Ambas são vias fáceis e bastante interessantes. Aviso que nos primeiros 1O metros se cair, “dá chão”, mais são trechos fáceis.

Deixei os últimos dias para abrir a “Amanita Matutina” e foram 6 dias de muito trampo e coçação, eu já tinha visto essa linha a muito tempo e queria fazê-la e também, já faz um tempo, mas, “por falta disso e excesso daquilo”, acabou demorando mais que a lógica, mas enfim, consegui subir para terminar algumas vias e finalmente, abrir a “Amanita Matutina” .

É uma das maiores vias em extensão da Pedra do Baú, cheia de surpresas e de lances especiais e para quem gosta deste tipo de via, ela garante momentos de reflexão para alguns e de diversão para outros. Não há nada de misterioso na via, são artificiais fáceis e alguns lances serão passados em natural já nas primeiras repetições. Alguns trechos em artificiais da via irão precisar de mais tempo de estudo para poder alguém passar em natural devido ao grau de exposição e também da dificuldade. Em fim como toda via, terá sua evolução.

Em Vermelho, a "Beudo e o Inquilibrista" e em Amarelo, a "Entre o sonho e a Resina"

Para mim é difícil graduar qualquer tipo de via e acredito que os graus que posso sugerir para essa via, podem sofrer mudanças, Classifiquei a via como se fosse “A3 7b E3”, pois, como foi aberta em solitário, as dificuldades encontradas são vistas de outro prisma, tipo, “se eu cair aqui eu me fodo”; ha quem possa graduar de A2. Devido ao grau de exposição de alguns trechos da via, eu graduei de “E3”, pois existem trechos bastante expostos, com quedas em pendulo, algumas com mais de 10 metros.

A via começa, na base da Face Norte do Baú, ao lado direito da via, “Distraídos Venceremos” e em dois largos, vc chega ao platô do MSP, de onde saem outras vias independentes. A via é toda com proteção móvel e é fácil, talvez com um lance de 6+ e como toda a via com proteção móvel, ela tem seu grau de exposição e eu acredito que esse trecho, apesar de fácil, tenha um grau de exposição de E2, E3, tem que ver. Esse trecho da via ganhou o nome de “O Beudo eo Inquilibrista 6+ E3”.

A partir do platô MSP, vc tem pela frente varias vias que te levam ao “Platô do Ciuminário” e a partir daí vc tem um trecho de aproximadamente 20 metros, que eu equipei a moda esportiva, esse trecho tem um grau elevado (ainda não sei o grau sugerido); é possível mandar esses trecho em A1. A partir daí, tem um trecho exposto, uns 30metros em A3( furos e agarras), no meio deste largo tem uma fissura de meio metro onde é possível colocar boas proteções, o que é um alivio pois você sai da área de perigo, que é cair de bunda no platô a 20 metros abaixo de vc,, No final deste largo tem uma transversal a direita de uns 10 metros sem proteção, um provável sétimo grau aéreo, divertidos e espiritual, usei clif para descansar no meio do lance.

Esse é o lance,...abandonei o pêso pra traz e encarei na fé que teria agarras. Uí!...tinha.

No final deste largo, fiz meu segundo bivac, instalei meu porta ledge e passei duas noites. A próxima etapa tem 35 mts e tem um cruquix e este trecho ta protegido com proteções fixas e pode ser passado em “artificial” (A1+ E3). No final deste “largo” vem a transversal, “Sueños com Serpientes 7bE3”, a esquerda, um trecho livre e exposto. Neste momento, vc esta no meio da “Travessia do Arco”. Na conquista da “Travessia do Arco”, eu escalei da esquerda para direita e agora eu escalei da direita para a esquerda e é um lance onde não adianta fazer força, é dialogo com a sapatilha, é sola e suavidade; esse trecho é uma travessia de sétimo grau, com uns 15 metros de comprimento, sem proteção fixa e uma queda neste trecho seria bem desconcertante, pois seria um pendulo num ralador de batatas.

Terminando a transversal você chega na parada da via “Arco do Bau”. Se vc vai repetir a via em dois dias esse é um lugar bastante interessante para passar a noite, com lugares para sentar, cozinhar, organizar o equipamento e etc. Passei duas noites bem confortáveis neste lugar.
A via segue a esquerda, por cima da “Arco do Bau”, acompanhando o platô dos tetos; próximo trecho é cruzar o teto” “Bem-vindo ao Ar”. Apesar de não ser um teto cinematográfico, vc esta na parte mais proeminente da Pedra do Baú, O inicio deste aéreo largo é em A0 e a saída do teto é em buracos de clif, para a esquerda, fácil e totalmente no ar, uma parada para evitar o atrito da corda estará esperando por vc a uns 10 metros em diagonal a sua esquerda.

Agora uma transversal, para esquerda em clifs, de uns 8 metros de comprimento; no final da transversal vc encontra uma fissura fina que sobe; toca pra cima, mais uns 3 metros e vc encontra uma fissura onde é possível colocar, boas proteções e logo mais acima vc fará uma parada móvel, perfeita e segura. ...No final da transversal, enquanto eu procurava o nuts para usar, fiz um movimento errado encima do clif e o “fiadaputzs” saiu fora e cai fazendo um pendulo no ar, com uns 10 metros de corda solta, em direção ao vazio; no final da primeira ida ao espaço vc saca que tem a volta eque será com a mesma velocidade que vc foi, e que vc vai “chapar o esqueleto” na parede. No meu caso foi uma surpresa e um gozo, descobrir que não toquei na parede na volta(já estou quebrado o suficiente). Depois que vc saca que não toca na rocha, ...aí fica gostozinho ...vc fica ali ...chapado de endorfina, adrenalina e urina...balangando no ar...indo e vindo... um milhão de vezes até parar de balangar......enquanto eu ia a minha alma ficava e quando eu vinha ela passava por mim, ficamos nessa ate nos encontrar novamente... (Esse lance é bem possível em mandar em livre, apesar da queda ser cinematográfica).

Agora vc esta na parede sumital mais aérea do Bau, com uns 50 metros de extensão, com proteções moveis e com uma erosão única , esse trecho da via é literalmente um presente para quem chegou ate ai, é realmente é uma delicadeza esse largo, a rocha tem a beleza de uma escultura. A via segue a esquerda da parada e no meio deste largo, tem mais um presente; um pequeno teto para “brincar no ar”. Acredito que a dificuldade para esse largo seja “5+ E2”??, com proteções variadas e algumas delicadas. Um final digno para uma via espetacular.
A partir da ultima parada, vc pode sair a direita, caminhando para o cume ou a esquerda, escalando por mais uns 10 metros fáceis até chegar no cume. Consigo ver sua cara de felicidade ao terminar esta via.
Valeu Moçada!...um abraço, sorte e muitas escaladas.
Bito Meyer.

Colocarei os novos croquis na Web, assim que fiquem prontos e na foto de itinerários da Fase Norte, que irá ilustrar meu Blog, vc pode visualizar a localização das vias.

domingo, 10 de outubro de 2010

Novas vias no Baú.










Antes mal acompanhado, que bem só.
Completei 30 litros de água e ainda teria que trazer mais 60 litros. Sentei no meu banco de pedra e fiquei olhando o amontoado de tralhas que eu havia transportado em cinco viagens para passar quase um mês no Baú sozinho, não era a toa que eu estava me sentindo “amassado”. Nesses dias o sol estava “pegando”, as bicas tinham pouca água, não tinha nuvens, e a “sêca” transformou o Baú, num forno. A luz do dia, a cor do sol tornava o calor, violento. Acordava cedo para escalar e tinha que sair do sol ao meio dia, pois ficava realmente quente e quando continuava escalando, tinha que me proteger de todas as maneiras para agüentar o calor, que realmente estava estranho. Anoitecia e o calor permanecia na rocha por horas.

A noite eu me recolhia no meu canto, com meus confortos resumidos e enquanto cozinhava, me hidratava com cuidado e pensava um pouco sobre o dia de hoje e o de amanha como seria, que tipo de situação eu iria me meter. Após jantar eu tomava meu café noturno e nas maiorias das vezes eu ficava até tarde olhando a noite, as vezes esperava pela lua na madrugada, as vezes jantava e ia direto pro saco de dormir e as vezes eu dormia por 12 horas ...meu corpo se recusava a sair do saco de dormir para passar desconfortos. Desci uma vez por semana para tomar banho e comer de verdade.

Raras são as pessoas que eu conheço que se propõem há passar vários dias, sozinho, sem falar com ninguém, longe da geladeira, celular, computador e TV. Garanto a vocês que é uma experiência relevante. Minha primeira solitária eu tinha 15 anos e passei três dias caminhando, numa trilha chamada ”Noroeste”, no Conjunto do Marumbi, no Paraná. Nunca esqueci o cagaço que eu tinha quando a noite caia e eu ia para a barraca armado de um facão esperando pelo pior.
Ficar só, acompanhado do que voce mesmo, a mercê de seu cérebro, pode resultar numa experiência única. Dar oportunidade para que seu cérebro e sua alma se manifestem de forma verdadeira, pode não ser uma situação confortável para algumas pessoas e outras, procuram esses momentos para entender a existência e suas nuances, a morte, as prestações, a vida prá levar, o amor desbotado e sobre a eterna solidão, “única”, em cada um de nós, essa, que aparece no escuro e no silencio. Algumas pessoas fogem desta situação, como o “diabo da cruz”, não se permite um minuto de silencio, estão sempre atrás de distrações, brinquedos novos e pessoas que não lhes ameacem psicologicamente.

O que acontece com o cérebro ficando só por vários dia..., o que se revela o que acontece quando o cérebro cansa de pensar asneiras, o que acontece quando a noite chega e as sombras sem de dentro de você e ficam na sua frente te olhando cara a cara, hálito no hálito... O que sobra. Você já tocou na sua solidão, não na solidão de se estar sozinho, mas na solidão da sua unidade, quando os diferentes níveis de pensamentos e percebimentos se revelam, quando os diferentes níveis de consciência se revelam, quando você tem suas primeiras experiências de insight, quando os primeiros saltos quânticos acontecem dentro de sua cabeça, quando você se “expõe” e se livra das “coisas’, que te dão segurança e identidade... você ta preparado para quando a sua alma se sobressair a tudo e sentar do teu lado, te dando um tapinha nas costas e te perguntando, (sem cuspe):__... e daí mano!... certo!


"Tem coisas, que para entender, vc tem que se expor e apreender a abdicar"

São essas situações que me mostram claramente o porquê muitas pessoas preferem o montanhismo verbal, teórico e publicitário (marqueteiro), do que a pratica propriamente dita e sem falar, é lógico que escalar montanhas é que é caro, putamente trabalhoso e que mesmo acompanhado, a ponta da corda é um lugar solitário e muito perigoso. Ficar na frente de um computador ou num boteco falando de escaladas e montanhas, enquanto enche a “pança ou de comida e cerva”, pra mim, é como falar de sexo e não comer ninguém e o pior, nem ser comido, (mas como vocês sabem, tarados existem).

Por outro lado, é interessantíssimo, quando o interesse em comum, é interessante e interessa a ponto de causar interesse, interessando as pessoas interessadas neste interessante assunto, né!...Ou melhor... Quero dizer... Impressionante como o montanhismo e a escalada excitam as pessoas de um modo em geral. Me cativa saber que a atividade que rege minha vida a mais de 40 anos alucina as pessoas a ponto de elas inventarem historias para se parecer um de nós, andam fantasiados, fazem caras e bocas e narizes e têm uns que são os maiores “cara dura,” tremendos “cara de pau”! Conheço pessoas que passaram 40, 50 anos embaixo do Marumbi, brincando de casinha e hoje se outorga o titulo de montanhista,... é ruim!?.

Hoje todo mundo fala de escaladas e montanhas, donas de casa, corretor, bicicletero, dono de quitanda, policia, psicólogos, a oitava namorada, o cunhado, o amigo do irmão do cunhado, o que chegou atrasado e todo o tipo de agregados, etc. alguns são até representantes, (não sei do que e quem, mas representam), teve ate um intelectual que falou na TV que não consegue entender uma pessoa que sobe montanhas, (o pior é que eu o entendo e seu mundico pré fabricado); soube ate, que no sul tem um cara tentando se eleger, para presidente das três Américas Unidas e para presidente interino da CGAMUUI( Confederação Galáctica das Associações de Montanhismo do Universo Universal Infinito ) para arrumar uma teta do estado para resolver sua situação econômica, usando o montanhismo como discurso,... fala serio!.. Não é uma puta atividade esse troço de subir montanhas e escalar, Uau! Muito loco o negócinho, é como eu já falei, tem cara que fica com ereção vendo revista de montanhismo e escalada, bom... eu nunca vi, nem quero ver, ...mas que tem, tem.

Adoro olhar de perto essas pessoas importantes, nos seus títulos,... bem de pertinho, eles são engraçados, da para perceber seus medos e aflições, suas inseguranças e suas reais intenções, Quando vejo uma pessoa dessas, a primeira imagem que vem na minha cabeça é de imaginá-los cagando pela manhã, pronto, imediatamente o ser verdadeiro aparece na minha frente e fica fácil de entender as necessidades da criaturinha que esta na sua frente.

Mentira... to brincando... o montanhismo e a escalada são atividades que nos melhora e nos esculpe, para que possamos desfrutar da existência de forma real e harmônica, para que possamos nos livrar da doença do patrão, da escravidão do mecanismo interminável das prestações e carnês, para que possamos educar nossas crianças para que elas não sejam pagadores de contas da escravidão, nem funcionários do inútil, que água é melhor que coca cola e que cloro faz mal, flúor também e que estão nos roubando esse tesouro natural e que é para nós um direito natural, que deveria chegar “de grátis e limpa” em nossas casas, simplesmente porque é obrigação do Estado, em fim, Montanhismo é isso aí!

Sei que é difícil abandonar o desejo de ter uma caixa decorada com tanto esforço e privação, para depois ir morar dentro, ou abdicar do emprego que vai roubar tua juventude, ou da grana que te da segurança perante as coisas e as pessoas, não é fácil sair da Matrix, a cama foi bem feita, mas um dia você vai ter que relaxar, provavelmente será na velhice quando a palavra “esperança” não ligue a sua raiz com a palavra “esperar”, quando a solidão se torne sua companheira, por não ter outra opção.

Estar sozinho, escalar em solitário, estar na montanha, só; mais que nunca é preciso ter “ânimo” e também conhecer os segredos desta palavra e ir alem dela... (animar, anima, animação, animado, anime etc.). A escalada em solitário é um momento pessoal que nasce da maturidade e não da aventura, não é uma condição, é uma opção, é um dialogo interno... bom...é quase isso; só sei que, enfrentar a si próprio te torna destemido.

Vejam vcs; "JC da Galiléia" gostava de dar umas bandas sozinho nas montanhas.( O mano, sabia)


Um dia um escalador de Curitiba me escreveu pedindo dicas sobre escaladas em solitário, que fazia um tempo que estava sem escalar, que tinha família e que estava voltando a escalar; senti um frio na espinha ao ler o email e respondi, entre outras coisas, que a escalada em solitário era “o momento se de usar a sua experiência excedente”; acabei não recebendo resposta do email, coisa que eu já esperava.

As pessoas esquecem que em 45 anos de pratica de uma atividade as coisas se repetem as pessoas se repetem... Ha uma coisa sobre a “Maestria” que as pessoas não sabem, ela não pertence a ninguém e nem tem um método para se tornar mestre em algo, é algo que acontece a algumas pessoas por causa de certas condições que espontaneamente se criaram, é como pegar alguns metais diferentes e colocar numa bagaça e colocar fogo embaixo da bagaça, alguns metais vão se tornar liquido, em tempos diferentes e em algum momento vão se fundir, assim é com a maestria, um dia a coisa funde e se manifesta através de você, não é você. É por isso que um mestre não se reconhece como tal, são as pessoas que percebem a manifestação da maestria. Levei muito tempo para entender o porquê, para um mestre, o elogio e o descaso para com ele, não tinha relevância nenhuma; porque ambas vem da mesma fonte. É por isso que um mestre anda “arquejante”, a procura de originalidade. Mas na real a coisa é bem simples, o universo do montanhismo e da escalada é o mesmo do jardineiro, padeiro e borracheiro, consiste em fazer com o coração, ter o tempo como catalisador.

Bom...acho que viajei... desculpa aí, foi mau!...o que eu queria mesmo é contar que o Baúzão, tem umas 20 vias novas, (ainda não contei) e que abri umas vias em solitário. Colocarei as informações pra vocês no meu blog, a cada semana. Vou manter uma foto aonde irei desenhando as vias e assim que puder coloco os croquis. Para informações e betas adiantadas é só me escrever ou telefonar. Será um prazer passar as informações.
Bito Meyer
São Bento do Sapucaí, 08 10 10

“Você ri porque eu penso diferente... eu rio porque você pensa como todo mundo.”

OBS. Já ia me esquecendo,... a bagaça tem que ser de qualidade, senão ela derrete antes dos metais....Sorte manos!!!!

OBS 2. Achei um monte de erros no texto, mas não sei consertar, fica assim!