segunda-feira, 28 de julho de 2014

                                                    Sobre Montanhas....                                                                                                                                                      
Minha cabeça fazia tuim, tuim, tuim! Que nem o filme do Riticoque, aquele que o cara tinha um troço com a mãe, aquele da faca, da cortina de box de banheiro, que tinha aquela mina pelada atrás da cortina, ta ligado! Eu tava assim,... porque eu escuto e vejo muita merda sendo feita e dita sobre montanhismo.
  A prática do montanhismo é muito arriscada e extenuante, porque usamos cordas e nos envolvemos com precipícios e grandes quedas, climas loucos, riscos constantes, logística e muito peso, já nas caminhadas o desfrute vem de outra fonte e era isso que eu queria nesta caminhada. Sei que algumas pessoas se intitulam montanhistas, mas que na real são trekinistas e que carinhosamente os chamamos de montanhistas horizontais. Existem clubes que usam o nome montanhismo, mas que na realidade é um clube de treking. O fato de andar em montanhas e que também de alguma forma as roupas e alguns equipamentos serem parecidos, confundem as pessoas e favorecem os interesseiros e os que têm medo de altura e os “segunda feira cinzenta”, aqueles endividados que resolveram usar o montanhismo para pagar suas contas e acham que podem folgar. Ledo engano!   
O montanhismo é um  esporte de risco  muito perigoso e para pessoas valentes e descompromissadas. " Mas caminhar é tudo de bom”. Na realidade para eu, caminhar é a única forma de oração que eu entendo. Amo caminhar. O treking é o pai de todos os esportes; mas não é Montanhismo.... o símbolo do montanhismo é formado de piolets e cordas 
Eu mesmo criei um clube no Paraná que se transformou em um clube de treking. Na real todos os clubes de montanhismo do Brasil são de treking.  São clubes recreativos e educativos e que tem a nobre função de divulgar, promover, agregar, preservar a conduta, a ética, a moral, a técnica  e a historia do montanhismo e torna-as acessíveis e claras. 
O estado do Rio de Janeiro tem mais de uma dúzia de clubes que desenvolvem o montanhismo e parece que eles tem muitos socios e cuidam bem de seus associados. 
Imagine um clube que vive de sonho, cadáveres e faz de conta e sempre falando de velhas vias. Um clube de panças e pelancas, de pessoas que não tem nem o corpo, nem currículo ou nem nada, sobre montanhismo e quererem cagar regras sobre montanhismo. Sem falar nas figuras que se escondem por um tempo, conchavada de companheiros pouca pratica, aparecem com uma matéria duvidosa para a TV, com vídeoszinhos editados que quem entende nota e sempre deixam duvidas e que rotulados por etiquetas de patrocinadores endividados que no final do mês... “O Caveira”, Nêga! ...”O Caveira” estará na sua porta lembrando o de suas contribuições mensais. Que vidinha mais ou menos. E isso vai acontecer ate o final da suas existências, nessa bolinha surrada.”... Inquilibrando-se”
 Bom...alguns clubes conseguem ser mistos. Da onde eu venho muitas pessoas que se intitulam montanhistas, mas são na real trekinistas, mas eles juram que amam as montanhas. Têm também os patotistas que também amam as montanhas, todos os finais de semana, quando não chove, lógico. 
Pessoal....a vida é boa. Ela é um universo de possibilidade e ganhamos um planeta fantástico para interagir. A vida é muito curta...uma titica. Devemos tratar essa oportunidade com nosso maior trunfo. Um imenso presente...

Pessoal escrever é difícil, escrever correto é mais difícil ainda. Parte da tarefa de fazer essa leitura consiste em corrigi-la. Se você for entrar nessa travessia, leve consigo um saco de correção ortográfica para não se perder no caminho. Divirta-se. Boa leitura. Obrigado.

 SERRA FINA EM QUASE SOLITÁRIO.
A visão da Serra Fina me cativou desde os anos 70 quando eu a vi pela primeira vez, quando visitava o Parque Nacional do Itatiaia. Era uma caminhada que eu “devia” para mim. Fazia uma eternidade que eu desejava fazer a travessia da Serra Fina em solitário. Eu já tinha tentado em uma ocasião mas o mau tempo não deixou. Desta vez, era novembro de 2013  e apesar de não ser mais a época apropriada para fazer essa travessia, devido ao mau tempo; lá estava eu novamente. Digo novamente porque toda vez que me dirigia  para a Serra Fina  saía com chuva na cabeça.
A ideia de fazer a caminhada da Serra Fina em solitário cativa a maioria das pessoas que já fizeram esse trajeto alguma vez, ou mesmo quem gosta de longas caminhadas e que conhecem a historia dessa trilha. Se você ler na Net a respeito dessa caminhada, você acreditará que ela é o terror das trilhas e que você não esta preparado em fazê-la. O que na realidade não é isso.
 A Travessia da Serra Fina é uma puta caminhada; são 40 e tantos kilometros para fazer a seu bel prazer, subindo e descendo serra.  Geralmente as pessoas fazem essa travessia no inverno, quando tempo esta firme. Também escolhem fazer a caminhada em 4 dias, nos feriados prolongados pois é quando essa oportunidade pinta o e pelo problema da água, que durante a travessia só há  água em dois lugares (pra quem não conhece a região)  
Problemas  ou preferência de logísticas também determinam em quanto tempo fazer e o estilo á escolher, mochilas muito pesadas e o problema da água, coloca o pessoal em cheque; como não tem onde colher água no segundo dia de caminhada, as pessoas recolhem água logo após toca do lobo, para os dois primeiros dias e quando chegam no Rio Claro, recolhem água para a noite e a manha no cume da serra fina e para o terceiro e quarto dia recolhem água no final da travessia do Vale do Ruah
 É muito difícil achar água durante esse trajeto e então surge então um problema de verdade: quanta água? levar........ fazer em quatro dias para poder desfrutar o lugar e ter tempo para 
 Então não é a toa que as pessoas quando vão fazer esta caminhada, se organizam como para uma expedição e geralmente são grupos grandes e que na maioria das vezes, a travessia e feita nos feriados prolongados, pois geralmente, a travessia é feite em 4 dias e no inverno, onde os dias são espetaculares e na maioria das vezes não chove. Nesses períodos um numero bastante grande de pessoas fazem a travessia; o que da certa sensação, mesmo que hipotética, de segurança, pois você não se encontra só. 
As pessoas têm medo de ficar só. Que dirá sozinho no meio da natureza, distante de tudo e de todos. Ficar sozinho com seus medos e pensamentos, ter a si próprio como compania, na mais completa solidão, onde você não tem o recurso da distração (tv,PC, boteco, o uso do cartão). Nesse momento  o escuro da noite, a distancia que separa você  de você  mesmo, da família, dos amores e das coisas que te dão segurança e identidade; sentam na sua frente; elas serão tua compania pelos próximos dias...e se a casa cair! Você ta sozinho ...He he! Menos... menos....não é assim tão cruel como eu pinto a sena. Eu já estive 2 vezes sozinho na Pedra da Mina e sobrevivi. O que pode acontecer de errado com você?... Ser abduzido por E.Ts para experiências sexuais, interplanetárias e ser comido por uma onça, (o que da no mesmo) ou então ser atacado por monstros que habitam o seu sótão, ou quem sabe quebrar uma perna, passar vários messes perdidão na selva, entrar em pânico e pular num buraco, ter um treco e transcender e não querer sair mais dali . Na real o que pode acontecer de errado é muito pouco... se você for tranqüilo e atento, nada de errado irá acontecer.
Se você respeitar algumas regras, a travessia não será um problema. Tem que saber jogar com o peso, já que será mais confortável e "seguro" se você caminhar leve. Escolher um bom calçado e uma mochila adequada, no mais, pouco tudo; só o suficiente. Quanto a água eu levaria três litros dia
Eu já tinha feito em solitário pelo Capim Amarelo até a Pedra Da Mina e voltado pelo próprio Capim Amarelo mesmo sem conhecer o caminho por não conhecer outro caminho. Depois fui com amigos fazer o caminho do Paiolinho até a Pedra da Mina e voltei pelo Paiolinho. Nunca tinha feito a travessia completa e a idéia dre fazer em solitário não saia de minha cabeça até que não tinha mais como adiar e então todas as senas da vida rolaram e eu estava na Toca do Lobo pronto para fazer a Travessia da Serra Fina, em quase solitário; minha companheira de escalada nesses últimos anos, Karininha R&R iria comigo bivacar no Capim Amarelo e desceria na manha seguinte. Não tinha mais como adiar...
Bato com força minhas bengalas no chão, como faço sempre, para avisar o local e o planeta que estou ali e começamos a subida do Capim Amarelo. 
Saímos da Toca do Lobo depois das duas e sem pressa, pegamos água alguns minutos mais acima e subimos tranquilamente até  o Capim Amarelo, ainda tínhamos um pouco de sol para organizar nosso pernoite. Quando vc chega no cume do CA, você  vê a distancia percorrida e a que você terá que percorrer; isso deixa muitas pessoas de cara! Dormimos logo e levantamos cedo. 
Eu caminho desde os 10 anos de idade e passei a vida pesquisando sobre alimentação e sempre cuidei do que eu como, principalmente por que, comer não é para mim uma fonte de prazer, não viajo muito nisso, como para ter energia. Eu tinha algumas duvidas sobre alimentação e horários de reposição e recebi uma proposta alimentar de um nutricionista que me deixou curioso. O cara prepara e sugere a alimentação para muitos atletas e dos mais variados esportes e eu fiquei curioso com a proposta do cara e resolvi testar nessa travessia como experiência.
Preparo um espetacular Arábica e sorvo minha nova alimentação; era estranho pois tenho inapetência matinal e geralmente não como nada pela manha e aquela refeição me fazia muito bem e me dava uma energia fora do normal que apostei em não levar nada do que eu normalmente levava, para os 4 dias que escolhi para fazer a travessia de forma  tranqüila. Coisas como: Nozes, passas, pão integral, mel, ovos  sardinha, atum macarrão etc. Tinha ficado em casa e dado lugar a:  pós e farelos ultra leves. Por momentos fico duvidando que vou fazer a Travessia sem minha tradicional alimentação, cheia quitutes e laricas. 
Karina arrumas as coisas e desce para a Toca do lobo e eu fico alguns minutos no cume do Capim Amarelo. Espero que o silêncio invada o cume com seus barulhos e que o vento tome conta de tudo, revirando meus pensamentos, afastando-os de mim. 
Meu objetivo naquele dia era chegar no Rio Claro e assistir o entardecer nesse lugar e assim foi. Chego no pequeno planalto onde se localiza o Rio Claro ainda cedo, retiro a mochila e dou uma volta na região; queria muito ficar umas horas sozinho nesse lugar, queria entardecer e amanhecer ali. No final do dia pego minha mochila e cruzo o Rio Claro que la em cima não tem mais de um metro de largura; encho meus cantis com diamante liquido e caminho até o bosque onde coloco minha barraca, exatamente como imaginei quando vi este lugar a primeira vez que vi este lugar e imaginei essa sena. Antes de escurecer a neblina passeia pelo bosque, entra na minha barraca, toca minhas coisas e eu a respiro e quando entra no meu cérebro não existe mais nada, somente aquele momento e o silencio que invade o ar e que navegava entre meus pensamentos... Fico ali imaginando me ver passar pela primeira vez, como para comungar esse momento intimo entre o homem e a natureza, entre os homens e as montanhas.
Pela manha acordo com pressa, quero chegar à Pedra da Mina, o dia esta radiante e as chuvas não estão na região. Subo rápido e chego no cume onde o Sol era o imperador e eu ali, amigo do rei. Tiro a mochila das costas e passo a mover-me lentamente, quero ficar ali boa parte da manha. Quando você esta sozinho nesses lugares, seu cérebro age diferente; as referencias, os estímulos tem uma fonte diferenciada de quando você esta na rodoviária de São Paulo, ou num cume cheio de pessoas que trouxeram a mesma conversa lá do vale, onde fica as cidades. Você pode achar engraçado, mas tem coisas que você só tem acesso se você estiver na mais completa solidão; então essas coisas aparecem para você e é muito bom. Uma das coisas que te mostra outra realidade é um “fenômeno” que  acontece com seu ouvido; como você esta sozinho, seu ouvido amplia o seu poder e você passa realmente a escutar . Então você escuta coisas que normalmente você não escuta e garanto para você que não é ruim; aposto meus 50 anos de montanhismo nisso. Uma hora dessas se de essa oportunidade.
Li no caderno de anotações que algumas crianças tinham feito a travessia; fico muito feliz com aquilo. Uma delas escreve algo como: “É muito difícil, mas é muito lindo”.
 Faço um café no cume da Pedra da Mina e fico ali, desfruto daquilo tudo. Pra todos os lados que você olhe as distancias são enormes e te dão uma sensação plenitude, de que tudo esta correto. Que tudo segue uma ordem natural e que é essa configuração que ira nos ensinar algo. Lógico, você terá que estar disposto a aprender. 
 A cota 3 mil é alta para um pais tropical descendo pro  o sul a um vazio dessa altura que só vai repetir na Argentina, para o Norte, passamos por ES no Pico da Bandeira e depois somente no Amazonas.
Fico viajando no cume da Pedra da Mina por um longo e languido tempo. Eu olho o Vale do Ruah e fico imaginando as historias que já escutei. O Vale do Ruah é o berço do Rio Verde e eu teria que atravessá-lo, mas antes disso eu teria que enfrentar um mar de capim elefante da altura do bicho, pântanos com areia movediça e folhas de capim que cortam como navalha ale da grande possibilidade de você passar por muito tempo perdido naquele labirinto. 
Tudo isso era muito desafiador e ao meio dia, pego minha mochila e desço até o inicio da travessia do vale do Ruah. Agora viria uma parte que até então eu não conhecia. Não sabia onde seria meu acampamento naquele dia, mas sabia que tudo aconteceria numa região que até agora eu não conhecia e melhor coisa a fazer era acelerar o expediente.
Cruzo o rio afundando minhas bengalas no banhado e tomando “olé” das moitas de capim até chegar ao outro lado do rio. Na real cruzei o rio bastante rápido e agora, em terra firme e plana, acho o inicio da trilha e daí pra frente “só alegria”! Apesar de não conhecer o lugar, eu acho a trilha com facilidade e deslizo em meio o capinzal gigante. Em pouco tempo me encontro no final do Ruah. Recolho água para aquela noite e escolho para acampar num lugar no final do vale, onde podia ver o vale e a serra fina de um ângulo que ate então não conhecia. Monto meu acampamento na subida do Cupim do Boi e fico por ali vendo o sol terminar sua jornada. Estava num lugar totalmente novo e desconhecido e aquilo me fazia muito bem. A noite começava há apagar o dia, lentamente e os elementos que compõem a escuridão começam a me cercar: os sons, os cheiros, as criaturas da noite, uma rufada de vento quente que ainda teima por ali, e em pouco tempo a escuridão reina absoluta e o céu se ilumina de carbono assoprado. Por instantes reina um silencio ensurdecedor, até  que o primeiro grilo começa sua cantoria e ai sim a velha fanfarra da noite apresenta seu espetáculo. Entro na minha pequena barraca e afundo dentro do meu saco de dormir.
Há tanta gente presa na Matrix, enfrente a televisão, ou outro eletrodoméstico, ou outra distração, ou o que é pior sem entender que essa configuração fajuta criada pela Matrix pode ser mudada, A vida é uma experiência fantástica. Existir neste período em que se encontra a humanidade é uma oportunidade única, é uma época para se de andar com os olhos e todos os sentidos vivos por que tudo esta acontecendo, estamos vivendo uma das fazes mais marcante de nossa trajetória nesse planeta. É um privilégio existencial estar consciente de tudo que acontece. Os próximos 50 anos definirão nossa estadia aqui na terrinha.
Todas as vezes que escolhi para fazer a travessia, o clima não estava bom; desta vez não era diferente, a previsão climática anunciava chuvas, raios, terremotos e assombrações e em todas as direções. A previsão não errou, pelo menos em parte.
Na primeira vez que tentei em solitário, eu fui ate o cume da pedra da Mina e voltei. Não vi nada, a neblina me acompanhou ate eu voltar ao Capim Amarelo. O tempo todo eu não sabia onde tava, eu não conhecia nada. Eu era um perdidão no meio da neblina. 
Agora a chuva não tinha cruzado meu caminho, apesar de eu avistar as chuvas rondando ao meu redor e escutava os trovões e sentia a terra tremer. Quando chego perto do cume dos Três Estados, sinto o ar carregado, uma cor “cinza esverdeada” cobre o ar e isso é descarga elétrica.  Quando eu chego no cume, uma enorme explosão arrebenta o ar! Sem pensar eu me abaixo e eu fico por segundos sem ação. Aquele estrondo ecoando ao meu redor, a sensação de que a montanha esta se desfazendo dura alguns instantes... sigo vivo. (O bom é que quando um raio cai em você é que você não vê e nem sente). Mesmo assim paro na escultura de ferro que existe no cume dos Três Estados, tiro a mochila para fazer uma foto e saio dali o mais rápido possível. 
Realmente a alimentação que eu estava usando tinha poder. Apenas tinha tomado um copo com algumas combinações de pós e farelos e o troço virou um combustível poderoso. Voei até o cume dos Ivos. Parei um pouco no cume e faço umas fotos. Agora a tempestade acontecia longe dali, puxo um pouco o freio de mão. Era meu terceiro dia de caminhada e tinha escolhido aquele dia para caminhar tudo o que eu pudesse, e ainda pretendia caminhar mais um pouco.
 Tudo estava calmo e eu estava a mil por hora, miro o próximo morro e saio em busca dele ( não lembro o nome dele). Escurece mas mesmo assim consigo caminhar sem lanterna; a noite não esta tão escura e distingo o trajeto da trilha com certa facilidade. As 9 hora no meio da escuridão eu encontro um lugar limpo e plano no meio do capinzal, onde cabe mais ou menos 2 ou 3 barracas. Entendo que ali é o lugar de parar, ainda caminharia mais algumas horas, mas já tinha caminhado o suficiente para um dia de alegrias , estava satisfeito. Sou simples e rápido e logo estou dentro da minha diminuta barraca, alimentado e flutuando.
Ainda esta escuro quando levanto; preparo meu café e assisto o dia acordar. Como era o ultimo dia e não quero que termine; não há  nada de serio para se fazer,  poderia ficar mais  uns dia por ali. Tomo meu café e fico esperando que ele faça efeito, que a cafeína chegue ao meu cérebro terminando de me acordar. 
As primeiras luzes que acertam meu acampamento e cobrem tudo de ouro, o verde, o vermelho, o azul, minhas mãos, a xícara de café e o vapor que sai de minha boca e que dança na frente de meus olhos, tudo é coberto pelo mais puro ouro. Fico ali em transe, olhando aquele espetáculo, até que toca o despertador interno; era hora de caminhar e sacudir aquela poeira dourada e sair dali antes que o mundo volte a ser colorido novamente.
Chego na fazenda ainda cedo. Percebo que cheguei em algum lugar, só não sei onde estou e onde fica a saída. Fico imaginando onde seria o final. Aquelas curvas finais devem ser um calvário á parte para algumas pessoas.
O barulho da rodovia aumenta e me aproximo-me de um sitio onde noto que algumas pessoal que estão na frente da casa, param o que estão fazendo e ficam me olhando com curiosidade e com certo espanto; acho que era a primeira vez que eles viam uma pessoa apoiado em duas bengalas, passando por ali com uma mochila nas costas, vindo de um lugar que só poderia ser a Serra Fina. 
Pergunto a eles se eu estava perto do portão de saída da fazenda, mas antes de responderem, me enche de perguntas:  Se estou sozinho, se eu machuquei a perna durante a travessia e trouxera as bengalas já pensando nisso,  se eu vi a onça, se eu tive medo, etc. Depois de responder todas as suas perguntas, eles anunciam que eu cheguei: ...Mais alguns metros...Depois da curva.
A Serra Fina, o Itatiaia e todos esses lugares abençoados, são verdadeiros santuários, que pertencem a estrutura do planeta e pertencendo ao planeta esses lugares pertencem aos habitantes desse mesmo planeta.  Esses lugares, em outras palavras, pertencem a população, as pessoas, ao contribuinte; esses lugares contribuem e fazem parte  do enriquecimento da raça humana, fazem parte da nossa evolução e da nossa compreensão sobre tudo que nos rodeia. Esses lugares devem ser protegidos dos peçonhentos, dos Reptilianos, dos pés no saco, dos endividados e todos os tipos de “Mala Hóstias” que circundam esses lugares, com suas idéias malevolentes provindas de suas frustrações pessoais e de desejos nascidos do medo da vida e da morte. ..”e também de outros troços que agora não vem ao caso”.
A Serra Fina não é exatamente o lugar para promover reuniões, corridas e outros tipos de aglomerações, pelo simples fato de ela ser um santuário As pessoas terão mais a “ganhar” se a atitude que as leva a conhecer e comungar  com um lugar com esse, seja motivado por outras razoes que não venham desse tipo de influencia.
Isso é visivelmente falta de “sacação”, de “mãnha”, tá ligado!  Promover e participar disso são até mesmo falta de respeito e demonstração de que não tá entendendo nada.  Lamento que as pessoas só tenham os feriados prolongados para fazerem esta caminhada. A Matrix é uma merda! Criamos ela e deixamos ela nos colocar nessas situações onde o que de pior pode acontecer para um homem que é perder sua liberdade e pior ainda é quando essa prisão se apresenta disfarçada de “responsabilidade” ou “compromisso sério”. 
Reconheço que fazer a travessia em quatro dias é confortável e podemos desfrutar do que estamos fazendo. Gostaria muito que as pessoas que gostam de andar nas montanhas e sobre tudo as que sabem o que a Serra Fina reserva para quem deseje conhecê-la, que reservassem dias escolhidos a dedo para desfrutarem dessa oportunidade e que conseguissem esses quatros dias em outro momento que não os feriados prolongados. Mesmo que para isso, você não vá ao seu casamento, na sua cirurgia marcada ou o no seu exame final de formatura ou até mesmo que você perca o emprego.
A Matrix é formada de muitas coisas; é o resultado de nossa inocência prostituída, Imaginem uma pessoa da roça no primeiro mês com a antena parabólica em casa; assistindo todo esse lixo. É também formada do nosso descaso pelas coisas fundamentais e pelo conformismo obvio da distração e obvio que também, de nossa visão previamente limitada. Tudo é configuração, se você não ta conseguindo esses quatro dias, então você terá que mudar a configuração ao seu redor.
Perceber que você administrou sua vida e escolheu para você aqueles momentos... andar por ali, chutar uma pedra, olhar nuvens, o horizonte, escutar o vento, recolocar a mochila nas costas e voltar a caminhar,... são 40 e picos  km para andar, da tempo pras pernas resolverem todas as mazelas da vida. Bom...á quem diga que eu estou viajando...tá bom, eu sei...Mas dá uma olhada ao seu redor. Hehe...
Durante o trajeto encontro todo o tipo de lixo. Vários pequenos “atalhos” estão se formando ao longo da travessia e que em algum momento irão causar muitas duvidas e provocar enganos e irão se agravarem nos dias de neblina. Esses atalhos são feitos ou forçados quando se encontram muitas pessoas na trilha. Parecia que um bando havia passado por ali.
Algumas pessoas escolhem a Serra Fina para treinar para o Aconcágua....ou vendem essa travessia como treinamento para esse propósito. Sinceramente!... é mais fácil você torcer o pé e acabar com o seu sonho de Aconcágua. A propósito, o Aconcagua é uma questão de saúde e aclimatação. Cuidado com os “Especialistas”: estão de olho na sua grana.
...Passo pelo portão e caminho pela estradinha em direção ao barulho dos carros que passam na rodovia. Karina me espera com seu sorriso pontual e sua camaradagem montanhística ... Coca cola, cerveja gelada, Taff Mae, sanduíches e todo tipo de guloseimas, melecas e enjoys desejáveis nessa hora. De se empanturrar-se!!!